segunda-feira, 16 de maio de 2011

Acomodação Condicional

Tenho percebido que as pessoas se conformam com aquilo que a condição lhes proporciona. A isso chamei de acomodação condicional, e ela pode ter um efeito positivo ou negativo, dependendo do ponto de vista.

Se pensarmos que o dinheiro é (e é mesmo) a base da sociedade, teremos que você não possui nada que não seja em função do dinheiro (a não ser que você seja agricultor de subsistência, nesse caso provavelmente não estaria lendo este blog). Adotando a premissa, a próxima conclusão é a de que, tirando a música, todas as suas posses são as melhores que você pôde comprar, mas não necessariamente a que realmente gostaria.

Você tem o carro que pôde ter, o computador que conseguiu comprar, a televisão que cabia no seu orçamento, etc... e o mais engraçado, normalmente pensa com sinceridade que realmente gosta daquilo e que está satisfeito. Já vi discussões onde pessoas defendem veementemente o Gol como um veículo satisfatório na relação custo-benefício. Sem ofensa ao carro ou a seus proprietários, meus amigos, me perdoem a afirmação generalista e categórica, mas o Gol é um carro merda. Ele normalmente não possui acessórios, que quando vêm de série são como maná vindo de Deus ao povo do deserto. E um Golzinho com todos os opcionais provavelmente custará de 5 a 10 mil (isso de cabeça, sem ligar pra ninguém nem pesquisar) mais caro que o modelo básico. 10 Salários mínimos. 10 vezes o pagamento sugerido pelo governo. Não é pouco dinheiro. Como eu disse, o problema não é o Gol, ou o Palio, mas o fato de que o brasileiro aceita os carros que lá fora ninguém quer como se fossem obras-primas da engenharia.

Seguindo a mesma tendência, todo o resto das suas coisas tem o mesmo padrão. Elas não são quem você é, mas de acordo com Chuck Palahniuk, acabam possuindo você. E te definem, quer você queira, quer não. Eles dizem o quanto você queria ou precisava daquelas coisas, a ponto de abrir mão do sonho da coisa perfeita, para comprar aquele que na época você conseguiu.

Sabe quando você vai num lugar que tem um cheiro horrível, mas as pessoas que moram ali parecem não sentir? Isso se chama acomodação sensorial. Da mesma forma, a acomodação condicional que eu aqui proponho faz com que você se acostume com pouco, e aos poucos ache que seu carro está ótimo, sua casa está de bom tamanho, seu emprego está satisfatório. E é quando você começa a estagnar.

É interessante perceber, também, como eu disse antes, que a música foge dessa lógica. Você pode ouvir a mesma música que o Bill Gates ou Steve Jobs, ou Quentin Tarantino (desse eu queria mesmo cópia do playlist). E terá a mesmíssima experiência, e as mesmas impressões, se você desprezar gosto musical e conhecimento técnico. Vou me adiantar ao que alguns possam dizer e discordar veementemente de qualquer pessoa que me diga que o sol também é o mesmo, a terra, etc... porque eles, graças à condição financeira, podem aproveitar isso de formas que eu (e provavelmente você) não podemos.

O ponto é que a pessoa se encolhe a um ponto em que realmente acredita numa mentira que lhe foi subliminarmente plantada (vide 1984), integrando irremediavelmente, daquele ponto em diante, a mediocridade. E ninguém quer isso, ou não quer perceber isso.

Então meu conselho pra você é: tenha o Gol, mas saiba que ele não é nada perto da Ferrari que você sempre sonhou, e se pergunte (e à Volkswagen também, por e-mail, por que não?) por que não existe um equivalente modelo esportivo por um preço justo? Se pergunte por que você não abre seu próprio negócio, já que seu atual emprego não tem perspectivas de melhora. E faça alguma coisa a respeito.

Quem sabe se formos mais chatos, o mundo não fica mais legal, já que somos legais e o mundo é um saco.

PS: Em tempo, eu tenho um Peugeot 307 e adoro :D
PS2: Você já olhou quanto custam os carros mais caros do Brasil no exterior? O Civic e o Corolla são carros de 15 mil dólares. O Focus também. Até o Volvo é mais acessível fora do Brasil.
PS3: O Golzinho, lá fora, ninguém quer.